quarta-feira, 28 de maio de 2014

A ARTE CONTEMPORÂNEA EM QUESTÃO, por Luiz Arthur Montes Ribeiro.



Nesta edição, a coluna INCONTROS traz um artigo do artista plástico Luiz Arthur Montes Ribeiro a respeito do processo de criação na arte contemporânea, e de ‘quebra’ ele nos presenteia com obras de seu acervo pessoal, que transitam entre a pintura e a instalação. Com a palavra, o multiartista:

"A arte reconhecerá a criatividade quando esta for mais naturalista e global e, no indivíduo criativo deve-se considerar o seu ambiente cultural pois o conceito de pessoas criativas não deve ser diferente de cultura para cultura. Tendo-se uma visão multidisciplinar se identificará o comportamento criativo que se reflete imediatamente na arte contemporânea.


"Amanhã ser"

Estes valores são reconhecidos pela arte, no que tange ao momento na escola, porém, a família, aqui com referência à brasileira, não tem proporcionado satisfatoriamente experiências de vida artística para seus filhos principalmente pelo contexto socioeconômico em que se vive. A família, que entre outros motivos se preocupa e proteger seus filhos, trata apenas do material, não motivando assim o artístico. Não havendo esta motivação a arte sofre suas consequências desabilitando-a de um processo criativo contínuo.


"Borboletas Aladas"
Poucas vezes, quando os adultos interferem, fazem críticas que podem ser chamadas de inadequadas. Um exemplo a ser citado é quando a criança mostra um desenho e a ela é perguntado: “O que é isto?” – “Se parece com o que? Neste caso a criança que não está apta a responder certamente se bloqueará e em seguidas vezes poderá dizer que não sabe desenhar, ou se expressar de qualquer outra forma de arte. Isto, mais tarde, terá reflexos na arte contemporânea para quem passa pela arte e para quem dela faz sua profissão.


"Horizontes"
Assim, não se pode deixar de comentar que o produto criativo das crianças, jovens ou adultos é o próprio resultado da atividade criativa, pois a ela cabem dois tipos de habilidades, sendo o primeiro a habilidade de domínio específico (a escolha de cada indivíduo) e a segunda habilidade de resolver problemas criativamente.

A criatividade sofre basicamente influências de três variáveis em seu processo. Estas variáveis são denominadas de barreiras, sendo elas cultural, perceptual e emocional.




A barreira cultural incide principalmente sobre o indivíduo quando ele tem medo do ridículo e há expectativa quanto ao seu papel sexual típico. O medo do ridículo, pode ser observado em trabalhos expressos pelo medo de que as pessoas zombassem de seu trabalho, inibindo assim a espontaneidade. O indivíduo que não consegue esta expressão, também não consegue produzir arte, ou quando a produz sofre muitas restrições e questionamentos sobre o seu fazer artístico.


"Longas pernas do meu corpo que não conseguem caminhar"

Por estes argumentos que aqui apresento, o indivíduo se cerca de preconceitos culturais compostos pela própria sociedade e não desenvolve sua criatividade, pois muitos creem que seu trabalho deve agradar. A arte contemporânea não está para agradar e sim para mostra-se ao indivíduos como um todo.

A segunda barreira e a perceptual, um bloqueio à criatividade. O indivíduo que se fecha às novas percepções, que não olha o mesmo fato, problema ou situação sob um diferente ponto de vista, não poderá nunca ser criativo, e   consequentemente não fará arte.

Série: "Arvoredos"
A terceira barreira é a emocional. O indivíduo que carrega consigo barreiras culturais e perceptuais, certamente trará as emocionais. Estas barreiras são internas à criatividade e dificultam a realização criativa. Há um impedimento para sua criação, pois ao longo de sua vida estas barreiras vão se solidificando e entre elas podemos citar a do medo do fracasso, o evitar a frustração, imaginação empobrecida, necessidade de equilíbrio e o medo de perder o controle.


O medo do fracasso é de não arriscar e não passar vergonha perante o seu grupo, principalmente o mais próximo. A evitação da frustração se caracteriza em desistir muito rápido frente aos obstáculos, mudanças e situações novas. A necessidade de equilíbrio tem por característica detectar a complexidade.


Série: "Mundos"
A arte contemporânea é um constante desafio ao medo e ao exercício da criatividade. O artista não pode ter medo de ousar e criar. Um dos traços mais amplos da criatividade é a originalidade com que o indivíduo produz ideias raras e resolve problemas de maneiras incomuns, usando coisas ou situações de modo não costumeiro.


"Presos em nossos jardins"

A originalidade, assim pode ser encarada com a capacidade de estabelecer conexões remotas ou indiretas. O indivíduo criativo é mais flexível que a maioria, pois para ele quando lhe é mostrado um determinado objeto ele verá neste, muitas utilidades dentro de sua concepção de arte.

Seguindo-se então estas variáveis, sendo elas observadas pela originalidade e flexibilidade pode-se concluir que existe o exercício da criatividade e este está expresso na arte contemporânea, em todos os sentidos. Tornando-se a estes itens, a interação da família no processo ensino-aprendizagem da criança, além do reforço, motivará o indivíduo a produzir e a torna-se um artista visual, ou em qualquer outra área das artes."


Referências:
BARBOSA, Ana Mae. São Paulo: Max Limanad. 3. Ed., 2008
BAUDELAIRE, Charles. Tradução de HELDT, Edson Darci. Obras Estéticas: Filosofia da Imaginação Criadora. Petrópolis: Vozes, 1993
FUSARI, Maria F. de Rezende: FERRAZ, Maria Heloísa C. de T. Arte a Educação escolar. Coleção Magistério. São Paulo: Cortez. 1992.
READ, Herbert. Tradução de MONTEIRO, Jacy E. O Sentido da Arte. São Paulo: Ibrasa, 7 ed., 1992
WECHSLER, Solange Múglia. Criatividade – Descobrindo e Encorajando. Campinas

Fotos: Elinton Krum e Josnei Rosa.




Texto e obras: Luiz Arthur Montes Ribeiro
Artista Plástico/Curador
Professor Mestre em Educação pela PUCPR. Doutor Honoris Causa Ph.I. em Filosofia Univérsica pela Academia de Letras do Brasil.









Izabel Liviski é fotógrafa e doutoranda em Sociologia pela UFPR. Pesquisa História da Arte, Literatura e Artes Visuais. Edita a coluna INCONTROS quinzenalmente.

Contato: izabel.liviski@gmail.com

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