quinta-feira, 22 de junho de 2017

EDUCAÇÃO FORMAL E NÃO FORMAL



Cultura é um processo intangível, e desde Kant é considerada a mais eficiente medida de civilização, parte indissociável do aperfeiçoamento, racional e moral, da história e da sociedade humana. Possivelmente é o mais longo dos aprendizados, adquirimos cultura ao longo de toda a nossa vida, e esta será tão mais refinada quanto mais dela absorvemos.

Exceto nas famílias privilegiadas, onde este é um saber transmitido pelo acesso natural ao bem cultural que compõe talvez a mais importante parte da herança, o brasileiro médio necessita submeter-se a um efetivo processo educacional para, minimamente, adquiri-la.

Políticos e sociedade civil promovem discussões acaloradas sobre conteúdos escolares, com propostas de inclusão de matérias novas no currículo, pois sentem que alguns conhecimentos são necessários a uma formação mais completa; no entanto muitos professores rejeitam esta proposição, pois implica em menor tempo dedicado às outras disciplinas, e terminam todas sendo vistas de forma superficial.

Escolas e famílias parecem ter dificuldade em definir a quem compete transmitir cultura, principalmente na atribuição das responsabilidades sobre o domínio, por parte dos jovens, do complexo conjunto dos códigos que assegurem o convívio e ação coletiva, assim como as regras de interpretação da realidade que permitam compreensão de sentido do mundo natural e social.


Costuma-se designar à educação formal o conteúdo específico que representa o acervo protocolar das ciências, seja este de ordem material, como na geografia, biologia, química; ou filosófica, como psicologia, sociologia e outras.

Mas a cultura tem acompanhado a evolução das ciências sociais desde as suas origens, e hoje, frente aos impasses e dificuldades dos projetos de desenvolvimento e modernização contemporâneos, não tem conseguido diferenciar-se, na área educacional, do valor conferido aos diplomas e títulos das especializações profissionais.

Porém, cresce a compreensão sobre a importância da educação não formal, para exercício pleno da cidadania e padrões éticos, civilidade no convívio com o outro, reconhecimento e aceitação da diversidade cultural para o comportamento não violento, em todas as esferas da vida. 

É esta que tem tentado responder à necessidade de saberes e aprendizagens indispensáveis à preservação de bens móveis e imóveis da cultura e do patrimônio, museus, resgate das tradições das comunidades, educação ambiental, artes, trabalhos socioculturais inclusivos, além das muitas identidades étnicas, territórios normalmente fora das estruturas curriculares da educação formal.

A emergência de novas formas de associativismo civil tem propiciado um maior volume de pesquisas acadêmicas, assim como o surgimento de novas políticas públicas, exatamente em função da necessidade de expansão da educação não formal, que poderia influir significativamente em maturidade e autonomia de vários movimentos sociais instituídos. 

Por meio desta, sem acrescentar conteúdos extras aos docentes, com maior participação de toda a comunidade, apoiando mais a família e minorias, seria possível melhorar sensivelmente a educação brasileira, não fossem os inevitáveis escândalos e desvios de verbas que, periodicamente, vêm a público.

Poucas têm sido as iniciativas reconhecidamente sérias, embora existam. O país parece, algumas vezes, fadado à corrupção, o que leva ao desestímulo dos empreendimentos efetivamente capazes de comunicar e difundir cultura.

Ante a impossibilidade escolar e a pouca eficácia de ONGs, o país vê seus jovens permanecerem à margem da aldeia global, e há risco de terminarmos por considerar normal que não possamos mesmo nos dar ao luxo de ensinar mais que o “básico para a sobrevivência”.



                                                 
Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil, assina a Coluna Educação & Cotidiano.

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